92 2015 Logística Logistic A concentração de cargas no modal rodoviário é assunto recorrente em pautas da mídia e em seminários especializados em transporte no Brasil. A maioria dos entrevistados e debatedores concorda que o atual formato, que destina quase 70% das cargas ao sistema rodoviário, está na contramão do mundo. Os mais exaltados chegam a alertar que estemodal está a ponto de atingir o limite máximo da capacidade devido à falta de estrutura viária o que, consequentemente, eleva os custos do transporte e torna cada vez mais próxima a ameaça de risco de colapso no abastecimento em determinadas épocas e regiões do país. Por isso defendem com veemência a distribuição do transporte de carga com outras vias, principalmente a ferroviária e a aquaviária. Sob essa perspectiva, ao perderem parte do percentual de mercado, os segmentos de caminhões e de implementos rodoviários já teriam atingido o limite da expansão e, daí para frente seriam apenas para renovação da frota. Especialistas contestam essa visão pessimista. Mesmo concordando com a necessidade de avanço de outros modais, eles reafirmam a importância do transporte rodoviário no contexto da logística. “O caminhão continuará presente fazendo as pontas. Como navios e trens não chegam aos supermercados e na casa do consumidor, 100% da carga continuará passando pelo caminhão”, lembra Neuto Gonçalves dos Reis, diretor técnico da Associação Nacional dos Transportadores de Cargas e Logística (NTC& Logística) e coordenador do Departamento de Estudos Econômicos e Custos Operacionais (Decope). Pensamento semelhante expressa Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). “Um exemplo da importância do papel do caminhão está na região de Rondonópolis, Mato Grosso, onde os caminhões transportam os produtos agrícolas das fazendas até a cidade, num percurso de até 200 km. De lá as commodities são embarcadas em um trem que faz trajeto de 1.700 km até o porto de Santos (SP)”, diz. Sobre o fato de o modal rodoviário beirar os 70% dos transportes de cargas (veja quadro com detalhes), Neuto é pragmático ao dizer que este percentual é compatível com os países de pequena extensão da Europa, porém, bastante elevado quando comparado com países de grande extensão, como os Estados Unidos. Contudo, ele chama atenção para fatos que nem sempre transparecem nos dados estatísticos. “Nos Estados Unidos, assim como em países como a China, Rússia, Índia e Canadá, predominam os meios não rodoviários. Mas vale ressaltar também que o nosso custo rodoviário é bemmais baixo do que os dos Estados Unidos”, garante. Cada um com a sua vocação O mais importante é saber, segundo Neuto, que os meios de transporte não são inteiramente substituíveis. Cada um tem seu nicho próprio, no qual suas vantagens superam as desvantagens. Em seus estudos, aliás, contesta a versão de que o trem poderá substituir o caminhão Destinar quase 70% das cargas ao sistema rodoviário, está na contramão domundo
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